Ecos de um Leprosário


 

Olá,

Quero falar um pouco do e-book que acabo de publicar na Amazon, e contar um pouco de como surgiu a ideia do projeto.
Há cerca de 10 anos fiz uma visita à Colônia de Itapuã, localizada em Viamão, cidade que faz parte da região metropolitana de Porto Alegre. Fiquei muito impressionada com o clima sombrio do local, onde ainda existem moradores. Quando a Instituição fechou em 1985, e descartou seus moradores, muitas pessoas não conseguiram se readaptar aos seus familiares, outros perderam totalmente o contato e ficaram sem nenhuma referência do mundo lá fora, então para não ficarem vagando pelas ruas, retornaram à Colônia. Existem também moradores que eram antigos pacientes do Hospício São Pedro, que ao serem liberados não tinham para onde ir.
A partir da visita assisti alguns documentários e entrevistas de ex-moradores da Colônia. Histórias de vidas truncadas, arrasadas e interrompidas. Na década de 40 foi descoberta a cura para a hanseníase, (na época chamada de lepra), e foi justamente quando a Colônia foi construída para isolar os contaminados. Ocorre que demorou cerca de 40 anos para a cura chegar no Brasil, e nesse período milhares morreram com a doença, ou por distúrbios mentais causados pela segregação. Em muitas situações as pessoas foram internadas apenas por haver suspeita de estarem infectadas. Estas, acabavam adoecendo pelo contato com os demais moradores.
A Colônia se tornou uma microcidade, com o tempo. Os que sobreviviam tiveram que adotar um novo modo de vida, pois não era permitido sair fora dos portões. Criaram uma estrutura para que eles tivessem atendidas suas necessidades dentro dos muros. Inclusive uma moeda foi criada para as pequenas transações de comércio que conseguiam realizar. Plantavam, colhiam, fabricavam sapatos especiais para os pés mutilados, e outras tarefas que estivessem dentro das suas limitações. Havia uma igreja, uma farmácia e uma padaria, além do refeitório que eram administrados pela instituição. Com o tempo construíram um salão onde faziam bailinhos e jogavam cartas. Dizem até que havia um cassino, mas creio que não  seja verdade. Foi construída uma cadeia, para encarcerar os fugitivos que eram capturados ou algum infrator que não obedecia as regras, assim como prisioneiros vindos de fora que estivessem contaminados. Num canto mais afastado se localizava o cemitério, onde seus mortos eram enterrados sem velório. Ainda hoje está lá com histórias e sonhos sepultados embaixo da terra e de escombros.
Mas o que mais me chocou nesta história toda, foi o fato das mães não poderem ficar com os filhos que nasceram dentro da Colônia. Muitos casais se formaram lá dentro, e consequentemente procriaram. Mas na hora do bebê nascer a separação era certa. Para evitar o contágio, a mãe não podia tocar na criança. Só a via de longe através de um vidro que era colocado dividindo a cama hospitalar na altura da cintura da parturiente. As crianças eram encaminhadas para a adoção, ou ficavam no orfanato dentro da própria Colônia até alcançar a adolescência, quando então era possível se unirem aos pais caso ainda vivessem.
Ecos de um Leprosário conta em elegias parte desta saga. Sensibilizada, tomei as dores deste povo e liricamente faço a eles minha homenagem através dos meus versos.


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